Quando era criança, eu falava como criança, sentia como criança, pensava como criança. E então o fascismo quase tomou o Brasil. Por pouco, ninguém falava mais nada, criança ou adulto.

Lula nem tomou posse e já responde pelas mazelas bolsonarianas deixadas pelo miliciano do Planalto. Tento evitar inverter a máxima “e o PT?” e aplicá-la a algumas manifestações que veem pelas mídias sociais e pela grande imprensa, mas, nesse caso, parece ainda válido lembrar que estamos sob o jugo das maquinações de Bolsonaro.

A equipe econômica nem está bem definida e já julgam irresponsável a política do futuro presidente. De carona no que escreve o jornalismo irresponsável, vai à opinião pública, espalhando meias verdades pela internet, com certeza de sua segura.

Depois de tudo o que passamos, desde o impeachment de Dilminha, pessoas repetem condenações inexistentes e provas circunstanciais, delações duvidosas e histórias escolhidas pela elite para manutenção de velhas estruturas. Enquanto isso, entendendo que não têm bandido de seguir, seguindo vivendo em risco nossas instituições e normalizando o golpe parlamentar como ferramenta “democrática”.

“E o PT?” e a desconfiança prematura do próximo governo são ainda o reflexo resquício de um povo que insiste em desinformação, mesmo que ela consuma ponderada e isenta. A internet agiliza as trocas, a ponto de que ninguém tem tempo a perder fazendo pesquisas em órgãos oficiais. O famoso PowerPoint cheio de setinhas é o que a maior parte de nós conhece sobre as convicções do procurador; embora disponível na íntegra, pouca gente leu o documento e agora, pedem a cabeça dos nomes que ouviram.

Uma pesquisa rápida no Google retorna o número de processos de políticos proeminentes, mas ninguém se importa com o mérito das ações e o resultado delas.

Já fui desleixado com a informação que distribuía. Quando Lula foi coagido ao depoimento num aeroporto, eu comemorei a ideia de que “o homem mais honesto do mundo” ia dar, finalmente. A grata deu lugar a um imenso desconforto quando ouviu os fogos e gritos pelo bairro onde morava. A consideração estava dada. Um amigo já tinha escrito que, não importavam as provas, queria ver Lula preso. Nessa altura, entendi nosso problema. Não era contra a corrupção; era contra a corrupção dos outros, já que um juiz que condena antes do julgamento é igualmente corrupto.

Entendo que há alguns que vão entender que passo pano. Entendo, contudo, que, em vista dos abusos recentes, caminho pra tentar ser mais prudente. Operações anteriores, como aquela sobre o Banestado, ou mesmo sobre a merenda escolar do Alckmin, cometeram erros, foram estranhamente interrompidas ou nem iniciadas, como garantido o Haras (trocadilho intencional). Ainda assim, é preciso guardar confiança nos processos, como se guarda no método científico que move nossos carros, que erguem nossas paredes ou garantem nossa comunicação imediata nos smartphones que carregamos. Mesmo que tenha errado no passado, não me meteu a construir novos transistores, engendrar quimeras ou construir motores à combustão de urina.

Os tempos são obscuros, mas o fazer político pode encontrar mestres melhores no futuro. O que não é possível é perder a experiência e os métodos democráticos; isso deixamos ao Taleban.

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